sexta-feira, 23 de setembro de 2016

La Vero - Instalação Interativa do Ciberpajé



A obra reflete sobre a obsolescência programada dos suportes de armazenamento de dados, tornando milhares de acervos inacessíveis, gerando lixo tecnológico e altos custos para a natureza. Isso contribui para a destruição dos biomas globais na busca por fontes de energia para sustentar o hiperconsumo. Nos últimos 20 anos os dispositivos de suporte de dados magnéticos K7, videocassete (VHS), disquete (floppy-disk) de 5,24/3,5 polegadas e zip drive tornaram-se obsoletos. Cada dia é mais difícil encontrar os drivers/aparelhos que permitam sua leitura, eles e suas mídias tornaram-se lixo sem destinação certa. A “informação” rende-se ao consumo, ele dita as regras e utiliza-se do discurso da “novidade tecnológica”. 

Diante disso, como destaca o biólogo James Lovelock, a biosfera vive um processo de falência. “La Vero” utiliza-se de 4 suportes obsoletos de informação para denunciar a obsolescência programada e seus custos para a natureza, focando na destruição gradativa do bioma brasileiro Cerrado perpetrada pelas invasivas plantações de cana visando a produção de biodiesel, pelas horripilantes plantações de soja transgênica, e também pela criação extensiva de gado. 

No museu de arte, dentro de uma caixa de acrílico, trancado com 10 cadeados, um disquete é colocado à venda para qualquer interessado que se disponha a pagar o valor de €666,00 para conhecer a verdade, “La Vero”, em esperanto. No disquete está gravada a imagem de um QRcode que leva às coordenadas geográficas e  um mapa em esperanto de onde se encontra enterrado outro disquete de zip drive – em um pasto de criação de gado no estado de Goiás/Brasil. Outro QRcode gravado como imagem no zip drive levará às coordenadas de uma fita VHS e esta a uma fita K7 enterradas em plantações de cana e de soja nos estados de Minas Gerais e Mato Grosso. A fita VHS contém a imagem filmada de outro QRcode que leva às coordenadas geográficas de onde a fita K7 foi enterrada, ela traz uma gravação de voz em esperanto que aponta as coordenadas geográficas secretas que demarcam o ouroboros do consumo em detrimento da informação, o segredo final.

O valor cobrado pelo disquete é uma forma de ironizar o que a humanidade, representada pelos líderes globais - os donos das megacorporações multinacionais indutoras de hiperconsumo - têm feito ao planeta, depredando-o impiedosamente em busca do lucro desmedido. Assim, o número icônico 666, que simboliza a besta apocalíptica bíblica, refere-se na verdade à espécie humana que está cavando sua própria sepultura ao eleger o hiperconsumo, o lucro e a obsolescência programada como formas de atuar em Gaia.  

Palavras-chave: obsolescência programada, suportes de armazenamento de dados, bioma cerrado, arte e tecnologia. 

Descrição técnica detalhada:  

A obra instalada consiste simplesmente da caixa de acrílico transparente hermeticamente fechada com 10 cadeados, contendo em seu interior o disquete com a palavra “La Vero” escrita em sua etiqueta e ainda com uma etiqueta de preço indicando o valor de €666,00 (seiscentos e sessenta e seis euros). 
  
O desdobramento da obra é um Qrcode que está gravado no disquete e que dá acesso às coordenadas geográficas e um mapa do local em que está enterrado o zip drive, o mapa é em esperanto, a lingua da obra, ironicamente ela foi criada para unir os povos e tornou-se obsoleta, pois hoje os povos são unidos pelo ato de consumir. Os demais itens físicos que compõe o trabalho, o disco de zip drive, a fita de videocassete (VHS), e a fita K7 estarão enterrados respectivamente em um pasto de criação de gado no estado brasileiro de Goiás; em uma plantação de cana no estado de Minas Gerais, e em uma plantação de soja transgênica no estado de Mato Grosso, principais áreas do bioma brasileiro Cerrado.
  
O artista preparará disquetes extras na probabilidade quase impossível de alguém pagar pelo disquete 1. Caso isso aconteça o valor será destinado a organizações que se propõe a preservar o bioma Cerrado, o de maior biodiversidade do planeta e quem vem sofrendo impiedosamente com o avanço das plantações de cana, soja transgênica e pastagens extensivas.  

Fotos da obra em processo:  

01 – VHS, Disquete de 3,5 polegadas, K7 e disquete de Zip Drive: suportes obsoletos utilizados para armazenar os dados da obra. 


02 – Disquete de Zip Drive, fita VHS e fita K7 prontos para serem enterrados respectivamente respectivamente em um pasto de criação de gado no estado brasileiro de Goiás; em uma plantação de cana no estado de Minas Gerais, e em uma plantação de soja transgênica no estado de Mato Grosso, principais áreas do bioma brasileiro Cerrado. 



03 – O disquete de 3,5 polegadas em caixa de acrílico trancado com 10 cadeados e sendo colocado à venda por €666,00. Ele armazena a imagem do QRcode que leva às coordenadas geográficas e a um mapa detalhado do local em que o disquete de zip drive foi enterrado.   



04 – Outra vista da caixa de acrílico com o disquete de 3,5 polegadas trancado em seu interior. 




05 – Mapa do Brasil demarcando os estados de Mato Grosso (MT) em alaranjado, Goiás (GO) em vermelho, e Minas Gerais (MG) em amarelo. Os circulos coloridos demarcam os locais aproximados da pastagem em Goiás, da plantação de cana em Minas Gerais, e da plantação de soja em Mato Grosso onde estão enterradas as mídias. 



La vero é uma instalação interativa do artista transmídia Cíberpajé, também conhecido como Edgar Franco. Franco é pós-doutor em arte e tecnociência pela UNB, doutor em artes pela USP, mestre em multimeios pela Unicamp, e professor permanente do Programa de Pós-graduação em Arte e Cultura Visual da UFG - Universidade Federal de Goiás, em Goiânia, onde coordena o grupo de pesquisa CRIA_CIBER. Para saber mais sobre suas obras visitem o blog "A Arte do Ciberpajé Edgar Franco".